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VISA entra na corrida das stablecoins com a USDG da Paxos e pode transformar o mercado

A Visa, uma das maiores empresas globais de pagamento, acaba de se integrar ao Global Dollar Network (USDG), um projeto liderado pela Paxos. Essa decisão marca um avanço significativo para o mercado de stablecoins e pode redefinir a maneira como as transações financeiras serão realizadas no futuro.

O que é a USDG e como funciona?

A USDG é uma stablecoin emitida pela Paxos, que tem ganhado destaque por seu modelo único de governança e rendimento compartilhado. Diferente das stablecoins tradicionais, como USDT (Tether) e USDC (Circle), que concentram os lucros gerados pelas reservas em suas próprias empresas, a Paxos adota uma abordagem mais colaborativa.

Os participantes do consórcio Global Dollar Network (USDG) compartilham os rendimentos derivados dos títulos do Tesouro dos EUA em que os ativos são investidos. A Paxos fica com uma porcentagem para cobrir custos operacionais e garantir a segurança da rede.

Entendendo o modelo da USDG

A Paxos, é uma empresa regulada pela Autoridade Monetária de Singapura (MAS) e também licenciada pelo Departamento de Serviços Financeiros de Nova York. O principal diferencial em relação às stablecoins dominantes, como USDT (Tether) e USDC (Circle), está no modelo de rendimento compartilhado:

  • 80% dos juros gerados pelas reservas em títulos do Tesouro dos EUA são distribuídos entre os membros do consórcio.
  • Os 20% restantes são mantidos pela Paxos para garantir segurança, manutenção da infraestrutura e conformidade regulatória.

Com esse modelo, a USDG transforma parceiros em participantes ativos do ecossistema, promovendo maior descentralização e alinhamento de incentivos.

A receita da USDG é gerada pelas aplicações das reservas em títulos do Tesouro dos EUA de curtíssimo prazo — especialmente aqueles com rendimento superior a 4% ao ano. Isso significa que, em vez de ficar com tudo, a Paxos distribui a maior parte desses ganhos para os parceiros, como Visa, Robinhood e Galaxy Digital.

Esse desenho torna a stablecoin mais atrativa para empresas que precisam de liquidez dolarizada, estabilidade cambial e, ao mesmo tempo, desejam rentabilizar sua posição com segurança.

Os impactos para o mercado cripto e TradFi

Atualmente, o mercado de stablecoins é liderado pelo Tether (USDT), com mais de US$ 110 bilhões em circulação, seguido pelo USD Coin (USDC), com cerca de US$ 45 bilhões. A USDG ainda tem uma capitalização modesta, girando em torno de US$ 200 milhões. Porém, com parceiros estratégicos como a Visa, o potencial de crescimento é gigantesco.

Analistas projetam que, caso o modelo de rendimento compartilhado continue atraindo grandes players, a USDG pode alcançar 1% a 2% da participação de mercado do USDT até o fim de 2025 — algo equivalente a mais de US$ 1 bilhão em circulação.

Casos de uso práticos com Visa e USDG

Com a integração, a Visa poderá oferecer novos serviços baseados em blockchain, tais como:

  • Pagamentos internacionais quase instantâneos, com tarifas reduzidas e compensação em tempo real.
  • Cartões de débito Web3, que permitem gastar USDG diretamente em estabelecimentos físicos e virtuais.
  • Liquidação de comércio B2B, conectando empresas globais via contratos inteligentes.
  • Tokenização de moedas fiat, onde clientes podem converter saldo em dólar diretamente em USDG para uso em plataformas DeFi.

A diferença entre Visa usar USDC, USDT ou USDG

Embora a Visa já tenha testado soluções com o USDC da Circle, a grande virada está no fato de que o USDG opera sob um modelo de consórcio com recompensas compartilhadas. Isso transforma a Visa de cliente em participante do ecossistema, com incentivos diretos à expansão da stablecoin.

Além disso, o USDG possui maior transparência regulatória em comparação com o Tether, frequentemente criticado por sua opacidade em auditorias e reservas.

Riscos e desafios pela frente

Nenhuma revolução ocorre sem riscos, e com stablecoins não é diferente. Veja os principais pontos de atenção:

Regulação ainda incerta

Nos Estados Unidos, a aprovação de uma legislação específica para stablecoins está emperrada. O projeto conhecido como Stablecoin TRUST Act busca estabelecer regras para lastro, auditorias e emissão, mas ainda não avançou. Isso pode trazer insegurança para instituições que operam nos EUA.

Concorrência com moedas digitais de bancos centrais (CBDCs)

Com o euro digital previsto para 2027 e o yuan digital já em circulação na China, as stablecoins privadas enfrentarão concorrência direta de moedas estatais emitidas on-chain. O sucesso do USDG dependerá de sua capacidade de entregar soluções complementares às CBDCs, e não apenas competir por espaço.

Desafios operacionais

A integração de sistemas bancários legados com redes blockchain ainda apresenta desafios técnicos. A Visa terá que garantir que sua nova infraestrutura mantenha o mesmo nível de confiabilidade e segurança que seus clientes esperam — mesmo operando com criptoativos.

O futuro dos pagamentos globais está sendo redesenhado

Com a adesão da Visa à rede USDG, o que antes era visto como um experimento do ecossistema cripto agora se torna parte do mainstream financeiro. A convergência entre Web2 e Web3 avança a passos largos, e o dinheiro digital soberano, rastreável e programável começa a ganhar espaço real no cotidiano de empresas e consumidores.

Se por um lado as stablecoins ainda são vistas com ceticismo por alguns setores conservadores, por outro, fica evidente que o modelo atual de pagamentos globais — caro, lento e ineficiente — está sendo desafiado como nunca antes.

A participação da Visa é mais do que simbólica. É uma aposta estratégica em um futuro onde o dinheiro será digital, interoperável, acessível e transparente.

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